A competência profissional é fator de
sucesso em qualquer setor da atividade. Há anos, a fala governamental se
dirige aos analfabetos adultos, na pretensão de eliminar o
analfabetismo, programando-lhes passaporte para a escrita e a leitura.
Mas, os analfabetos continuam e cada vez
mais em número crescente. Acontece que os programas governamentais
partem de um pressuposto falho. Acha o governo que qualquer pessoa que
saiba ler e escrever pode alfabetizar um adulto. O adulto, já
cristalizado em seus hábitos, quer por vergonha, quer por falta de
tempo, quer por medo de não conseguir aprender, reluta em se
alfabetizar. Acaba por desistir. Muitos já tentaram sem sucesso e chegam
a se considerar incapazes, sem inteligência.
Alfabetização de adultos não é mera obra
de voluntários, mesmo que tenham boa vontade. Sem o sentido de
profissionalismo, sem o devido preparo pedagógico para entender as
bifurcações que levam à alfabetização, não chegarão lá. Pelo fato de o
adulto ter alcançado a última fase do desenvolvimento cognitivo, capaz
de raciocínio, de abstração, de reversibilidade, o processo do
conhecimento não é tão simples. Esse adulto não foi estimulado na fase
própria da aprendizagem, tem a inteligência pouco trabalhada e, quase
sempre, interiorizado um sentimento de incompetência, de vergonha,
quando não, de culpa por não saber ler.
Aí é que entra a força da didática
centrada na formação do alfabetizador. É preciso capacitação específica
para alfabetizar. Um professor que leciona em cursos mais avançados e
que nunca alfabetizou, não recebeu treinamento nessa área, vai ter,
inclusive, dificuldade em alfabetizar. Na
formação do professor, reside o maior entrave para os cursos de
alfabetização de adultos. Um professor, com conhecimento em
alfabetização, saberá conduzir, facilitar o aprendizado e passar
estímulo, para que o aluno continue aprendendo pela vida afora.
A LDB impõe a necessidade do curso
normal superior como formação mínima para o exercício do magistério na
área de educação infantil. O professor precisa ter uma boa formação para
não atropelar o processo de desenvolvimento da criança e conduzi-la,
com serenidade, à aprendizagem. Vários são os métodos adotados, porém,
em todos, o atendimento individual, a observância da autonomia na
aprendizagem, a participação ativa da criança na construção do
conhecimento, são procedimentos comuns a todos. Privilegiam os métodos
ativos que mantenham uma interação fecunda professor/aluno.
O socioconstrutivismo tem sido um dos
métodos mais praticados nas escolas. Emília Ferreiro é o ponto de
partida da orientação socioconstrutivista, que se encontra mesclada
pelas linhas básicas de pensamento de teóricos, que defendem uma visão
integrada do desenvolvimento humano, como Jean Piaget e Lev Vigotsky.
Vigotsky atuou mais na área da psicologia e da neurologia. Piaget
descobriu que as crianças não pensam como adultos, têm sua própria ordem
e sua própria lógica. Para a pedagogia tradicional, elas eram como
“recipientes” a serem preenchidos com conhecimentos. Piaget demonstrou
que as crianças são ativos construtores do conhecimento. Para ele, o
conhecimento resulta da interação entre o sujeito e o mundo. Mundo em
que o sujeito não é passivo e o conhecimento não é cópia, mas construção
ou elaboração do mundo, é “assimilação da realidade”. O sujeito e o
conhecimento se constroem. Para haver aprendizagem não basta a
transmissão da informação por mais competente que ela seja, como fazia a
escola tradicional. É o sujeito quem, fazendo relações, associando o
novo ao já conhecido, vai construindo o conhecimento, segundo a sua
estrutura de formação. Piaget procurou decifrar as fases do
desenvolvimento mental. A criança é um ser que interage com a realidade e
assim forma suas estruturas mentais. É referência obrigatória.
O método Montessori, criado pela médica
italiana Maria Montessori (1870-1952), iniciou-se com o desenvolvimento
de técnicas para ensinar crianças excepcionais. Parte do pressuposto de
que a criança é dotada de infinitas potencialidades e é capaz de
autocrescimento. Seu método foi chamado de "Escola do Silêncio”, por
estimular a concentração, a introspecção e a integração social. As
atividades são propostas levando-se em consideração as peculiaridades da
criança. Na relação professor/aluno, as atividades são sugeridas e
orientadas, deixando que a própria criança se corrija.
Um outro método que vem ganhando espaço é
o Waldorf, também chamado de antroposófico. O nome Waldorf surgiu pelo
fato de as primeiras alunas de seu fundador, o alemão Rudolf Waldorf
(1861-1925), serem funcionários da fábrica Waldorf Astoria, na Alemanha.
O método trabalha a criança conjuntamente no seu desenvolvimento
físico, social e individual. As turmas se dividem por faixa etária e não
por série. Não há repetência e a relação da escola com os pais é muito
grande. Evita-se o máximo a troca de professores, que devem acompanhar a
mesma turma por um período de 7 anos.
Essa pequena explanação elucida o quanto
o professor deve conhecer, estudar, praticar, para exercer, em bom
nível, a alfabetização.
A alfabetização de adultos atingiria o
seu objetivo se pudesse contar com professores preparados para esse fim,
como já se faz com a alfabetização das crianças.
Izabel Sadalla Grispino
Supervisora de Ensino Aposentada